Vinhos e espumantes nacionais batem recorde de vendas

As vinícolas brasileiras venderam 15,2 milhões litros das bebidas de janeiro a junho deste ano

Vinhos e espumantes nacionais batem recorde de vendas
Cava da vinícola Arte Viva, em Bento Gonçalves (Rodi Goulart/Divulgação Arte Viva)

A venda de vinhos, espumantes e sucos de uva nacionais, em apenas seis meses deste ano, registrou quase o mesmo volume de todo o ano de 2019, antes da pandemia. É o que revela o balanço mais recente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), divulgado na última semana com dados oficiais do Sistema de Cadastro Vinícola da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul.

De acordo com o levantamento, as vinícolas brasileiras venderam 15,2 milhões litros das bebidas de janeiro a junho deste ano, apenas cerca de 200 mil litros a menos do que em doze meses de 2019 (15,4 milhões). Já na comparação entre períodos, os seis primeiros meses de 2021 acumulam uma alta de 41,15% frente a 2020.

Destaque para os espumantes brut, que tiveram um aumento de 52,03% nas vendas, seguido pelos moscatéis com alta de 43,3%, e pelos vinhos finos com um incremento de 41,15%. Já os sucos de uva, que representam o maior volume de vendas, tiveram um crescimento menor de apenas 3,56%.

Deunir Argenta, presidente da Uvibra, explica que a venda recorde de vinhos e espumantes nacionais começou a crescer durante a pandemia, com uma alta de 56% na comercialização, e vem conquistando os bons números após anos de desenvolvimento.

“Estamos colhendo o que plantamos há muitas safras, não é por acaso que o vinho brasileiro vive este reconhecimento pelos próprios brasileiros. Muito investimento foi feito, o que proporcionou uma grande transformação nos últimos dez anos”, analisa.

A manutenção das vendas no primeiro semestre deste ano é um reflexo do hábito que os brasileiros criaram ao longo de 2020, de olhar para a bebida nacional durante o isolamento social. A alta do dólar no período incentivou os consumidores a experimentarem os rótulos daqui, mesmo ainda disputando a preferência e o preço cobrado pelos vinhos argentinos e chilenos.

Deunir Argenta reconhece que é difícil fazer os brasileiros repensarem o conceito antigo que alguns ainda tem dos vinhos nacionais. Mas, a conquista de prêmios internacionais e a entrada cada vez maior em restaurantes e no exterior está mudado isso. “Aprendemos, depois de muita tentativa e erro, além de estudos, que tudo começa no vinhedo e é a partir dele que o nosso vinho vem conquistando cada vez mais consumidores”, afirma.

Os estudos a que ele se refere são a formação de enólogos e a importação de equipamentos semelhantes aos usados em vinícolas europeias, tidas como as produtoras de alguns dos melhores vinhos do mundo. Um destes profissionais é o gaúcho Giovani Ferrari, descendente de italianos que começaram a produzir a bebida na Serra Gaúcha ainda no século 19, e hoje comanda a própria vinícola.

Para abrir a Arte Viva, o enólogo passou por vinícolas do Douro, em Portugal, e Epernay, na França, para aprender a elaborar vinhos de alta qualidade e sensações. São cinco linhas de produtos da marca dele.

“Cresci vendo meu pai e meu avô trabalhando com a viticultura. Até hoje a família trabalha com isso, no interior de Bento Gonçalves. O mundo dos vinhos de alta gama me encanta, permite aprimorar e descobrir a nossa sensibilidade através dos nossos sentidos”, conta.

Entre os motivos que levam Argenta a crer na disposição dos brasileiros em provar cada vez mais os rótulos nacionais está, além dessa questão de qualidade, a variedade de opções disponíveis no mercado. O Brasil produz vinhos e espumantes em 26 regiões espalhadas por dez estados, principalmente no Sul do país, parte do Sudeste, Centro-oeste e no Vale do São Francisco, entre a Bahia e Pernambuco.

Dados da Ideal Consulting, consultoria especializada no mercado brasileiro de vinhos, apontam que existem cerca de mil vinícolas no país entre as de vinhos finos e as voltadas à bebida de garrafão, de uvas comuns. Dois terços da produção estão no Rio Grande do Sul, de onde saem 90% dos vinhos brasileiros de conglomerados e cooperativas como Miolo, Aurora, Salton, Casa Valduga, Garibaldi, entre outras.

O crescimento das vendas de vinhos nacionais tanto neste primeiro semestre como durante todo o ano de 2020, marcado por nove meses de pandemia, ocorreu principalmente pelos e-commerces brasileiros e no varejo. E, aos poucos, os restaurantes também passaram a oferecer cada vez mais rótulos da bebida.

O bom desempenho das vendas das bebidas nacionais também se deu pela exportação. Segundos dados da Comex Stat / Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) divulgados nesta segunda (9), o comércio de suco de uva, vinhos tintos e espumantes deu um salto de 261,95%, 161,17% e 38,08%, respectivamente.

De acordo com a Uvibra, a maior remessa foi de vinhos finos para o Paraguai com 3,1 milhões de litros, seguido por 304 mil litros de espumantes para os Estados Unidos e 300 mil litros de suco de uva para a China. Nesses seis meses, as vinícolas brasileiras registraram remessas de vinhos finos para 55 países, espumantes para 36 países e suco de uva para 42 países.