Vinho da Canastra foi o mais bem pontuado no Descorchados 2022​

Sacramentos Sabina 2021 foi considerado o melhor tinto brasileiro na edição de 2022 do guia chileno  de vinhos

Vinho da Canastra foi o mais bem pontuado no Descorchados 2022​
A edição do guia chileno 'Descorchados 2022' (Divulgação)

O assunto já ganhou as manchetes da região, mas  agora a qualidade de um vinho da Canastra é o destaque da semana da coluna “Le Vin Filosofia”,  de Suzana Barelli, do caderno “Paladar”, do jornal “O Estado de São Paulo” nesta semana. Ela destacou o  grande feito do vinho brasileiro “Sacramentos Sabina 2021”, produzido na Serra da Canastra, que foi considerado o melhor vinho brasileiro na edição de 2022 do guia chileno ‘Descorchados’.

Ela lembra que primeiro foi o Syrah Vista do Chá 2012, ao se destacar como melhor vinho brasileiro no concurso da revista inglesa Decanter, em 2016. Agora, o Sacramentos Sabina 2021 é considerado o melhor tinto brasileiro na edição de 2022 do guia chileno Descorchados.

O destaque aos dois vinhos, elaborados com a mesmíssima uva syrah e em regiões pouco tradicionais no mapa vinícola brasileiro, revela uma técnica de cultivo que vem revolucionando a viticultura do Sudeste e do Centro Oeste. O primeiro tinto vem de vinhedos da Guaspari, em Espírito Santo do Pinhal, no lado paulista da Serra da Mantiqueira; o segundo é um projeto novo da Sacramentos Vinifer, na Serra da Canastra, em Minas Gerais.

A técnica utilizada no cultivo de suas uvas é chamada de dupla poda, poda invertida ou colheita de inverno. Desenvolvida pelo pesquisador brasileiro Murillo Regina, ela dá certo ao “enganar” a videira a partir da poda, obviamente, e também da irrigação e de um hormônio que a faz a planta hibernar. Com isso, as uvas conseguem amadurecer tranquilamente no início do inverno, quando não há o risco de muitas chuvas, e quando é maior a amplitude térmica, a diferença de temperatura entre o dia e a noite que faz a uva se desenvolver com maior complexidade. Regina explica que as noites mais frias de junho e julho nesta região permitem o maior equilíbrio entre álcool, estrutura e acidez do vinho, fazendo com que sejam mais equilibrados.

“E as uvas, ainda, têm uma sanidade impressionante, ao contrário de muitas frutas que recebo no meu laboratório”, afirma o enólogo Alejandro Cardozo, que elaborou o Sabina. Neste vinho, ele definiu o momento da colheita por fotos, imagens por zoom e exames de laboratório. Não provou as uvas antes da colheita, já que ele estava em Caxias do Sul (RS) e o vinhedo, em Minas.

Imediatamente depois de colhidas, as uvas viajaram por dois dias em caminhão refrigerado até chegarem à Caxias. O tinto premiado neste ano pelo Descorchados é o primeiro que Cardozo faz com uvas originárias da dupla poda. Uruguaio, ele é sócio dos espumantes gaúchos Estrelas do Brasil e dá consultoria para mais de 20 vinícolas, na América do Sul, na sua Empresa Brasileira de Vinificações.

Jorge Donadelli Júnior, sócio da Sacramentos Vinifer, conta que a poda invertida possibilitou realizar o sonho do seu pai de ter o seu próprio vinho. “Imaginávamos que seria impossível ter um vinhedo na nossa região, até conhecermos o trabalho do Murillo”, conta ela. Primeiro com negócios no ramo calçadista (a marca Donadelli) e hoje também com investimentos nos ramos imobiliários e do agronegócios, ele plantou os primeiros dois hectares de vinhedos numa fazenda a 1.100 metros de altitude do nível do mar em 2018. O plano é chegar a 30 hectares. Além do tinto, Jorgito, como é conhecido, lançou também um rosé, resultado da sangria do tinto, e se prepara para colher as primeiras uvas de sauvignon blanc neste inverno.

Vendido por R$ 378 (a safra 2017 do Syrah Vista do Chá 201) e por R$ 150 (o Sacramentos Sabina 2021), os dois vinhos são exemplos do potencial desta região para o cultivo na dupla poda. Outros vinhos devem surgir, assim como novos prêmios, de instituições mais conceituadas, também devem ser anunciados não apenas para estas vinícolas, porque é bem perceptível na taça o ganho de qualidade do vinho brasileiro.

 

A PRODUÇÃO

As uvas dos empresários francanos Jorge Félix Donadelli e Jorge Donadelli Junior, o Jorgito, nascem no distrito de Desemboque, em Sacramento no Parque Nacional da Serra da Canastra. Na Fazenda São Miguel numa área de apenas 2 hectares foram plantadas, há 3 anos, as uvas Shiraz e a Sauvignon Blanc. Para surpresa de todos, já na primeira safra, na primeira colheita e primeira produção do vinho denominado Sabina, tanto tinto quanto rose, ambos foram premiados

“Para nós o interessante é a classificação já na primeira safra. Não imaginávamos ser classificados, e tampouco conquistar o primeiro lugar para o vinho tinto como o melhor tinto do Brasil 2022 e pontuar o Sabina Rose como vinho revelação entre os primeiros colocados concorrendo com os melhores. Não era nossa pretensão, foi uma surpresa maravilhosa. De fato queríamos desde o início fazer um bom vinho. Meu filho é um entusiasta dos vinhos e o DNA do vinho está na nossa família. Meus antepassados (avós) faziam seus próprios vinhos nas regiões da Calabria e de Veneto. A figura da pessoa com uma caneca de vinho é muito presente na minha família. Minha mãe foi gerada na Itália e nasceu no Brasil e é a ela que homenageamos com o nome do vinho: Sabina, que também é o nome da minha filha. Temos três filhos, Jorgito, Sabina Luiza e Maria Carolina”, disse Jorge Donadelli.

“Vencer uma disputa concorrida como esta alavanca o vinho para outro patamar. O credencia a participar de outros concursos e também de já apresentá-lo ao mercado com este diferencial. Por ser a primeira safra, primeiro vinho que nossa família produz e primeiro lugar, pelo que sabemos a primeira vinícola de Sacramento, é sem dúvidas um grande feito. Fazer um bom vinho da primeira vindima é um feito histórico. E isso nos coloca num caminho até diferente do que pensávamos no princípio. Teremos uma grande tarefa, inclusive tivemos que preparar rapidamente o site para vendas, que ainda está em construção, mas que será o www.sacramentosvinifer.com e com isso, abrimos outra frente de negócios muito diferente daquelas com as quais estávamos acostumados”, comentou o filho Jorge Félix Junior, o Jorgito.

“Plantamos 1 hectare de Shiraz e outro de Sauvignon Blanc. Vamos ampliar a plantação da Shiraz ao longo dos próximos anos. A fazenda tem excelente espaço. E, como não somos apenas dedicados a esta produção, terceirizamos algumas etapas para profissionais altamente capacitados e comprometidos com a qualidade. Utilizamos técnicos de Poços de Caldas, verdadeiros cientistas da uva, como o Murillo de Albuquerque Regina, responsável pela dupla poda. Ele nos orientou desde a compra das mudas, que vieram da França até as podas. Nossa região chove janeiro, que é a época de produzir, e é sabido que a uva é inimiga de chuva. Com isso, colhemos em julho, atrasando um pouco, mas possibilitando uma uva melhor. Sobre a nossa região de plantio ela é propícia por ter noites frias e dias quentes. A uva se dá bem com este choque de temperaturas”, explicou Donadelli.

Sobre o engarrafamento, o empresário contou com o apoio do enólogo uruguaio Alejandro Cardozo, considerado o melhor enólogo no Brasil em 2021.

“Alejandro contribuiu sobremaneira com esta etapa. As uvas foram colocadas em um caminhão refrigerado e levado para Caxias do Sul. Chegou em condições de qualidade excelente, o que propiciou um vinho muito bom. O rótulo foi aprovado e em breve os dois produtos serão comercializados pelo site. De fato, foi tudo muito rápido”, finalizou Donadelli.