“Sorria” traz de volta as clássicas correntes de maldição

Filme de Parker Finn está em cartaz nos cinemas de Passos e São Sebastião do Paraíso

“Sorria” traz de volta as clássicas correntes de maldição
Sosie Bacon é a protagonista de um pesadelo desorientador e indutor de ansiedade que o deixa questionando tudo o que vê (Divulgação)

Se há alguma dúvida de que vivemos numa sociedade onde é imperativo ser feliz e sorrir o tempo todo, basta dar uma busca em alguma livraria virtual para ver a quantidade de manuais e livros que “ensinam” a ser feliz. Sem falar nos coachs, palestrantes e médicos dispostos a enfiar a alegria goela abaixo de qualquer um disposto a pagar por isso. O terror Sorria, de Parker Finn, não é exatamente sobre isso, mas também é sobre isso.

Rose (Sosie Bacon, excelente no papel) é uma terapeuta que acumula plantão em cima de plantão na clínica psiquiátrica onde trabalha. Seu objetivo, como médica, é ajudar as pessoas já que têm um grande trauma na vida: viu a mãe matar-se na sua frente. A partir dessa experiência, prometeu fazer de tudo para que seus pacientes possam lidar com seus traumas e questões mentais e tenham uma vida um pouco melhor.

Num de seus plantões, quando estava quase indo para casa, chega na emergência Laura (Caitlin Stasey), uma jovem doutoranda que sofreu um trauma ao ver um professor se matar na sua frente usando um martelo, uns dias atrás. Rose faz os procedimentos padrão para tentar ajudar a garota, que está alterada. Num momento de distração, enquanto pede ajuda ao telefone, Rose não percebe, mas a paciente quebra um vaso e, enquanto estampa um sorriso estranho no rosto, corta o próprio pescoço na frente da médica.

Finn, que também assina o roteiro, constrói a narrativa sem pressa, dando tempo para que as coisas decantem, para que Rose perceba que entrou num estado de trauma novamente, o que desestabiliza sua própria saúde mental. Antes de morrer, Laura dizia que via uma mulher sorrindo para ela – e só ela a via. Um sorriso estranho, nada alegre, um tanto cínico, talvez. A médica começa a ver essa mesma pessoa? Seriam alucinações? Sua mente cansada lhe pregando peças?

A partir daí, a vida da médica nunca mais será a mesma. Ela tem um noivo, Trevor (Jessie T. Usher), e uma irmã mais velha rica, esnobe e mesquinha, Holly (Gillian Zinser), que está interessada em vender logo o terreno onde fica a casa abandonada da mãe. Finn sabe aproveitar muito bem a fragilidade de Bacon, que se revela uma atriz a se prestar atenção.

As flutuações da personagem impressionam: ela começa o filme bem vestida, maquiada, com os cabelos milimetricamente presos, mas se transforma na medida em que Rose vai perdendo a sanidade. Mas, realmente, não estaria ela sofrendo de uma maldição ou perdeu a razão? Ninguém acredita nela, que acaba pedindo ajuda à sua antiga terapeuta (Robin Weigert, excelente também), que diz “Para poder ajudar aos outros, precisamos estar com boa saúde mental.” E não é o caso aqui.

O roteiro de Finn pode não navegar por águas muito criativas, e o filme se insere no subgênero das correntes malignas que precisam ser quebradas para que o protagonista sobreviva. Mas ele dirige com sagacidade, sem desperdiçar sustos baratos, nem a trilha sonora cortante do chileno Cristobal Tapia de Veer. Sorria é um terror, ao mesmo tempo, comum, mas como poucos graças à segurança do diretor para entrar em terrenos espinhosos – em especial, o do trauma.

Se passar pela análise de um ou uma especialista na área de psicologia,  a história pode se revelar implausível ou cheia de buracos, mas, como cinema de terror, funciona muito bem,. Ao fim, obviamente, deixa pontas soltas que podem tanto ir para trás, contando a origem do mal, como para a frente, com eventos futuros. E dado o sucesso de bilheteria, uma continuação – ou algumas – não soa improvável. (Alysson Oliveira/CineWeb)

SORRIA (Smille). EUA, 2022. Gênero: Suspense, Terror. Direção: Parker Finn. Elenco: Sosie Bacon, Kyle Gallner, Jessie T. Usher, Caitlin Stasey. Cine Roxy, em Passos, 20h30 (Dub). Cine A, em São Sebastião do Paraíso, 17h00 (Dub)

Veja o trailer: