Sorria 2: Entre gritos e surtos, Naomi Scott brilha em sequência maior e mais violenta

Depois de pausar sua carreira por um ano, por conta da morte do namorado e de sua internação numa clínica de reabilitação, Skye Riley está de volta

Pela segunda vez neste ano, um megaconcerto de uma jovem pop star é o evento central de um filme. Se em Armadilha, de M. Night Shyamalan, o que acontecia no palco não era central, em Sorria 2, o grande clímax é uma ideia brilhante ocorrendo exatamente quando sua protagonista é observada e admirada por milhares de adolescentes alucinadas de paixão. O filme está em cartaz no Cine Roxy, em Passos.

Em Sorria, de 2022, o diretor e roteirista estreante Parker Finn, fazia uma aposta num filme terror de premissa intrigante: um demônio que se manifesta fazendo as pessoas sorrirem de forma assustadora e depois se matarem violentamente. Era um filme de orçamento modesto, mas eficiente em sua concepção e execução. Com Sorria 2, o cineasta tem um orçamento visivelmente mais polpudo e faz valer cada centavo gasto. 

Os valores de produção destacam a vida glamorosa da jovem estrela Skye Riley (Naomi Scott) que, depois da perda do namorado de forma trágica num acidente de carro, internou-se para abandonar o vício em drogas e álcool, e está de volta aos holofotes após um ano de afastamento. Ela prepara sua nova turnê, que começará em Nova York. Mas o brilho melancólico em seus olhos denuncia que o passado não ficou para trás, e ela ainda luta para se recompor física e emocionalmente. 

Com dores e cicatrizes pelo corpo, ela ainda precisa usar analgésicos fortes, mas não tem autorização para isso, o que a faz procurar seu antigo traficante, Lewis (Lukas Gage), para conseguir Vicodin. Numa dessas visitas ao apartamento dele, o rapaz demonstra um comportamento estranho, até que sorri para ela de forma assustadora, e o que se segue é ainda mais assustador. 

O filme acompanha essa personagem, de seus ensaios para a turnê à relação com a mãe tóxica e parasitária (Rosemarie DeWitt). Há também as suas fãs, jovens garotas que querem fotos, abraços, autógrafos. Skyle faz o jogo da indústria do entretenimento. É simpática o tempo todo, sorri delicadamente e vive a persona glamorosa que é esperada dela.

Scott está excelente no papel, mostrando que por trás da estrela há uma mulher frágil, lidando com pressões cada vez mais severas de seu trabalho e também do demônio do sorriso que a possuiu quando viu seu amigo se matar de forma violenta. Para as pessoas ao seu redor, que não podem ver o tormento que ela vê, Skye está, novamente, tendo um ataque dos nervos. E é nessa dicotomia que o filme de Finn funciona muito bem: o que é real e o que é alucinação?

As pessoas que “sorriem” para a protagonista são as mais inesperadas, e disso o filme tira muito proveito, tanto nos sustos quando no fortalecimento do clima de horror da narrativa. A trilha eletrônica de Cristobal Tapia de Veer fortalece essa atmosfera, que se torna cada vez mais irreal quando um personagem sugere um plano para acabar com o demônio, que envolve parar o coração da protagonista por alguns minutos.

O assédio por fãs ávidas por vídeos para o tik tok, ou um sujeito com cara de maníaco entre as jovens que tira uma foto com a estrela, são mais ainda fontes de terror do que os demônios internos e externos contra os quais ela precisa lutar, e que Finn sabe fazer isso com sagacidade. Enfim, são vários pontos a favor do filme que, agora estabelecido, tem tudo para virar uma franquia.

 

SORRIA 2 (Smille 2) EUA, 2024. Gênero: Terror. Classificação: 14 anos. Direção: Parker Finn. Elenco: Naomi Scott , Dylan Gelula , Lukas Gage. Cine Roxy, em Passos, 21h00. Cine A, em Paraíso, 21h30.