'Rabo de Galo' entra para renomada lista internacional de coquetéis

Clássico dos botecos brasileiros ganhou nova roupagem e agora, ao lado da Caipirinha, estará nas mais renomadas cartas de bebidas

'Rabo de Galo' entra para renomada lista internacional de coquetéis
O drinque que combina cachaça e vermute tinto conquistou seu lugar no balcão de bares descolados (Reprodução)

Famoso desde 1950 em bares e botecos do Brasil, o Rabo de Galo agora ganha uma nova roupagem, conquistando espaço na alta coquetelaria mundial. O drink acaba de entrar na seleta lista da Associação Internacional de Bartenders, que tem cerca de 80 coquetéis.

 

Inclusão foi anunciada pela rede social da entidade e, agora, está ao lado da Caipirinha nos principais drinks mundiais. Ao receber esse reconhecimento, pode ocorrer com o Rabo de Galo o que aconteceu com a Caipirinha há 30 anos, quando ela entrou pra essa mesma lista e ficou ainda mais famosa no mundo todo.

 

Rabo de galo é o coquetel mais consumido no Brasil. Dá para acreditar? Ele não tem uma receita exata, porém, na sua criação, a proporção original era de 2/3 de cachaça para 1/3 de bitter. E nem há uma técnica fixa de preparo: as bebidas podem ser misturadas num mixing glass com gelo ou no próprio copo de servir.

 

A história do rabo de galo está ligada à chegada da fábrica da Cinzano a São Paulo, nos anos 1950. De olho na comunidade italiana, a empresa se instalou por aqui. Porém, logo ficou evidente que nos balcões de bares o paulistano bebia cachaça e não vermute e a empresa resolveu estimular a mistura de vermute e cachaça. Fez isso criando um copo exclusivo, com linhas da marcação das doses: “Até aqui, vermute. Daqui pra cima, cachaça”, conta o bartender Derivan de Souza, há mais de 40 anos no mercado paulistano.

 

“O fundo do copo, bem grosso, também foi pensado para aguentar a batida no balcão na volta do gole. A criação foi batizada de cocktail, termo na época já consagrado nos EUA para nomear a mistura de bebidas. Com o tempo, acabaram traduzindo o nome para rabo de galo, cock é galo e tail, calda ou rabo”, conta Derivan.

 

De São Paulo, o rabo de galo se espalhou para o resto do País e acabou ganhando características próprias em cada região. Em Minas Gerais, rabo de galo é feito com Cynar. No Rio de Janeiro, é chamado de Traçado.

 

Hoje o drinque adquiriu status e, nos últimos tempos, tem sido pedido como qualquer clássico, principalmente agora que passa a integrar a lista da Associação Internacional de Bartender (International Bartender Association, IBA), onde já está a caipirinha. Essa é a lista que reúne os grandes coquetéis do mundo com suas receitas oficiais: são 62 ao todo, incluindo a tradicional mistura de cachaça, limão e açúcar, que entrou na seleção em 1998 graças ao esforço do bartender brasileiro Derivan de Souza, que na época era o presidente da ABB. A caipirinha era o único drinque nacional no rol até o começo deste ano.

 

SEM RECEITA

E como a bebida não tem uma receita fixa, nem no balcão de boteco pé-sujo nem no bar da moda, o negócio é falar de seus ingredientes, pois, aí sim, o lugar em que é feito faz diferença, já que no seu novo habitat a evolução do coquetel fica evidente. No popular, são duas partes iguais de cachaça e vermute.

 

Nesses bares, o rabo de galo é feito com medidor em punho e, quase sempre, com gelo de qualidade – uma das últimas grandes preocupações que invadiu os copos. A temperatura mais baixa diminui a percepção de amargor e a potência alcoólica da cachaça, deixando o coquetel menos agressivo, mais fácil.

 

Com tantos cuidados, o rabo de galo está conquistando seu lugar entre os grandes drinques. Afinal, como é que nasce um clássico? Bom, geralmente começa com uma história para contar e disponibilidade internacional dos ingredientes. A partir daí, se cair no gosto popular, ganha relevância, visibilidade e reprodução. Tá fácil, vai?

 

OS INGREDIENTES

 

1. CACHAÇA Qualidade e tipo interferem. A cachaça branca, sem característica de madeira, intensifica a potência alcoólica. A cachaça envelhecida, com característica de madeira, deixa o coquetel complexo, com camadas de sabor.

 

2. BITTER Bebida alcoólica amarga, infusionada com uma mistura de ervas, raízes, especiarias, frutas ou flores. Apesar de o rabo de galo original ter sido feito com o vermute Cinzano (bebida à base de vinho tem doçura e muito amargor vindo da infusão de diversos botânicos) ou o Cynar (bebida à base de alcachofra, ervas e outras plantas, confere amargor intenso e persistente, maior que o do vermute, mas com mais doçura e mais barato que o Cinzano)

 

3. OPCIONAIS. O limão aparece bastante, como suco, guarnição ou para perfumar: a casca espremida sobre o copo.