Para quem curte um melodrama, “Todo tempo que temos” é boa pedida no Roxy
Apesar da atuação brilhante dos indicados ao Oscar, melodrama mistura romance e comédia de forma mais convencional do que deveria
Para quem curte um melodrama que mistura romance e humor, com um final bem previsível, “Todo tempo que temos” é o filme certo. Estrelado por Andrew Garfield e Florence Pugh, a trama estreia nesta quinta-feira (31) no Cine Roxy e narra a história de um casal que constrói o lar e a família dos sonhos.
Porém, eles são surpreendidos com um diagnóstico de câncer. Com direção de John Crowley (de “Brooklyn”), a história segue Almut (Pugh), uma talentosa chef de cozinha competitiva, e Tobias (Garfield), um homem recém-divorciado.
Eles se conhecem de forma bem inusitada: Tobias (correndo na rua vestindo um roupão) é atropelado por um carro dirigido por Almut. Eles se apaixonam após o acidente. A trama conta todas as fases do casal, apresentando a evolução do relacionamento.
Apesar da história bonita, tudo isso é apresentado de uma forma não linear que pode confundir o espectador mais desatento. O filme aborda os altos e baixos que qualquer casal da vida real passa.
"Todo tempo que temos" é protagonizado por Andrew Garfield e Florence Pugh (Divulgação/Imagem Filmes)
Por mais que arranque lágrimas (e até gargalhadas) dos espectadores, o roteiro de Nick Payne (criador da série “Wanderlust”) é meio desorganizado e conta com algumas cenas forçadas. Por outro lado, a química de Andrew Garfield e Florence Pugh em tela é incrível.
O carisma dos dois é o que segura o filme. Por diversos momentos, temos a sensação de que os dois de fato estão interpretando pessoas que nasceram uma para a outra. Eles dão profundidade e emoção a diálogos que seriam mais do mesmo se ditos por um casal menos brilhante.
Boa parte da trama foca na vida profissional e pessoal de Almut. Durante a adolescência, ela precisou abandonar a carreira na patinação artística após ser diagnosticada com câncer. Já na fase adulta, lida de novo com a doença, enquanto atua como uma das maiores chefs do Reino Unido.
Por outro lado, Tobias é pouco explorado, sendo definido apenas como um homem apaixonado e compreensivo. É como o príncipe dos sonhos. Almut tem bem mais camadas. É uma mulher forte e decidida, características exploradas em momentos como uma competição de culinária da qual participa.
Ao mesmo tempo, a personagem tem vontade de aproveitar mais o marido e a filha antes que o câncer em estágio quatro tome conta de seu corpo. E sim, tem uma criança nessa história – o que aumenta ainda mais o drama. Almut inicialmente não queria ter filhos, mas sem explicações acaba mudando de ideia.
Com uma hora e 48 minutos de duração, “Todo tempo que temos” destaca o talento de Andrew Garfield e Florence Pugh – com grandes chances de os dois concorrerem ao Oscar novamente. Mas a mistura de drama, romance e humor dirigida por John Crowley não funciona tão bem.
Por mais que a narrativa acompanhe o casal por uma década, a trama não traz a profundidade que uma história deste tipo pede. O longa explora a vida, a morte, e passar do tempo com uma narrativa às vezes forçada. Sem a força da atuação do casal, o tempo gasto assistindo ao filme seria ainda mais perdido.
TODO TEMPO QUE TEMOS (We Live in Time) Reino Unido/França, 2024. Gênero: drama. Direção: John Crowley. Roteiro: Nick Payne. Elenco: Andrew Garfield, Florence Pugh, Adam James, Marama Corlett, Aoife Hinds, Nikhil Parmar, Heather Craney, Douglas Hodge, Lee Braithwaite, Grace Delaney, Amy Morgan, Niamh Cusack, Lucy Briers, Robert Boulter, Kerry Godliman. Cine Roxy, em Passos.