‘O Guarda-Costas’, filme de sucesso na década de 90, está no Cine Clube nesta terça

Um grande sucesso do cinema, a ideia para ‘O Guarda-Costas’ já flutuava por Hollywood desde os anos 70

‘O Guarda-Costas’, filme de sucesso na década de 90, está no Cine Clube nesta terça
A comovente história da amizade platónica entre Whitney Houston e Kevin Costner (Divulgação)

Poucas estreias de artistas do mundo da música pop nas telas de cinema foram tão significativas e marcantes quanto a da saudosa Whitney Houston em O Guarda-Costas. Lançado em seu país de origem, os EUA, no dia 25 de novembro de 1992, chegando ao Brasil no dia 15 de Janeiro de 1993 e que pode ser revisto na sessão desta terça-feira do Cine Clube Pipoca&Bala Pipper, em Passos, filme foi um dos maiores sucessos de seu respectivo ano nas bilheterias (permanecendo mundialmente em segunda posição, atrás apenas do fenômeno animado da Disney, Aladdin)

A ideia para o filme O Guarda-Costas já flutuava por Hollywood desde os anos 1970. No início de tal década, o projeto era pensado tendo Steve McQueen e Diana Ross como protagonistas. No entanto, foi descartado por ser considerado muito controverso, mesmo para a época de uma mentalidade mais revolucionária como os anos 70. Depois, ao fim da mesma década, Ross permanecia atrelada ao projeto, com a mudança do protagonista masculino. Saía o durão McQueen, e entrava Ryan O’Neal, do sucesso Love Story – Uma História de Amor (1970), coprotagonizado coincidentemente pela esposa de McQueen, Ali MacGraw. Depois de uns três meses de desenvolvimento, mais ou menos, a produção de O Guarda-Costas foi novamente cancelada, desta vez devido a diferenças irreconciliáveis entre a musa pop Ross e O’Neal, que haviam tido um relacionamento neste meio tempo – o ator era um mulherengo notório e inveterado, tendo namorado meia Hollywood.

O projeto de O Guarda-Costas, no entanto, se recusava a morrer, e seguia mudando de mãos e mudando de formas. Foi nos anos 1980, durante as filmagens do faroeste Silverado (1985), que Kevin Costner se deparou com o roteiro para o filme pela primeira vez. Acontece que o texto estava sendo escrito por Lawrence Kasdan, roteirista de alguns dos maiores sucessos dos anos 80, vide O Império Contra-Ataca (1980), Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981) e O Retorno de Jedi (1983). Kasdan escreveu e dirigia Costner em Silverado na época.

Fã declarado do cineasta japonês Akira Kurosawa, o roteirista e diretor Lawrence Kasdan pegou inspirações e referências de suas obras clássicas para alguns elementos de O Guarda-Costas. O título, por exemplo, foi retirado de Yojimbo (1961), que no Brasil e EUA tem o subtítulo O Guarda-Costas. Em uma determinada cena do filme de 1992, o personagem Frank (Costner) leva Rachel (Houston) para assistir ao filme Yojimbo. O protagonista, assim como o escritor do filme, se mostrava fã da cultura japonesa – o lema dos guarda-costas tem muito do altruísmo de entregar a própria vida para proteger outra, vinda dos samurais. E quem poderia esquecer da cena da espada afiada cortando a seda.

Temas e inspirações para ‘O Guarda-Costas’ saíram do cinema japonês, em especial dos filmes de Akira Kurosawa.

Outra inspiração para Kasdan na hora de criar o protagonista Frank Farmer foi o astro Steve McQueen – talvez pelo fato de o ator estar atrelado inicialmente ao projeto. Coincidentemente, McQueen estrelou Sete Homens e um Destino, o remake americano na forma de faroeste do clássico Os Sete Samurais (1954), de Akira Kurosawa. Tudo está conectado. Quando conseguiu o papel, aliás, Kevin Costner revelou que muito de sua performance estava baseada e caracterizada no astro Steve McQueen, talvez por já saber das intenções originais do roteirista. Assim, a inspiração foi além do desempenho, com Costner inclusive portando o típico corte de cabelo pelo qual McQueen ficaria conhecido ao longo de sua carreira.

A trama de O Guarda-Costas fala em seu núcleo sobre o relacionamento amoroso nascido entre uma cantora da música pop que se encontra no topo do mundo, como a artista mais famosa do momento, e seu protetor, o guarda-costas Frank Farmer. Mas a história não é puro romance, o filme é também um thriller, já que Rachel Marron, a tal estrela, está sendo ameaçada de morte por um fã obsessivo e psicopata, que parece estar disposto a cumprir suas ameaças. A trama tenta ainda ter um insight sobre a loucura da fama, como administra-la e os perigos que pode acarretar, usando como base artistas reais que foram perseguidos, ameaçados e inclusive mortos por pessoas desequilibradas, que ultrapassavam a linha do saudável. Ah, é claro, não esqueçamos das músicas – um dos elementos mais marcantes, mas que iremos falar mais adiante.

Apesar de parecer não ter como errar e já ter nascido um tremendo sucesso, o roteiro de O Guarda-Costas foi rejeitado por Hollywood nada menos do que 67 vezes. Isso mesmo. Esse foi o número de “nãos” que o projeto recebeu até finalmente ganhar o sinal verde da Warner. Após ser abraçado pelo estúdio citado, foi adicionado a bordo o comandante da obra, o britânico Mick Jackson, que havia acabado de entregar a comédia de sucesso L.A. Story (1991), com Steve Martin e Sarah Jessica Parker, para a Columbia/Sony. Kevin Costner, que estava no topo do mundo na época, entregando um sucesso atrás do outro em sequência como Dança com Lobos (1990 – pelo qual levou os Oscar de melhor filme e diretor), Robin Hood – O Príncipe dos Ladrões (1991) e JFK – A Pergunta que Não quer Calar (1991), embarcou logo depois no projeto assumindo as capacidades de produtor e protagonista. É seguro dizer que na época Costner era um dos maiores astros do mundo.

Com todas as peças no lugar, era a hora de encontrar a protagonista feminina Rachel Marron – preferivelmente uma verdadeira estrela da música, ou ao menos uma cantora talentosa. E o encontro único que ocorreu não poderia ter sido melhor. Antes da entrada da eterna Whitney Houston, no entanto, nomes como Olivia Newton-John, Joan Jett, Debbie Harry, Janet Jackson, e até mesmo Dolly Parton e Madonna foram considerados para ocupar a vaga. Esta última, no entanto, foi devidamente embarreirada pelo produtor Costner, já que tinha feito uma piada às custas do astro no documentário Na Cama com Madonna (1991), que o ator não tinha gostado nada. Já Dolly Parton não estrelou o filme, mas teve certo envolvimento. Acontece que Parton é a autora de ‘I Will Always Love You’, o maior sucesso da trilha sonora de O Guarda-Costas. A cantora country confessa ter tido que encostar o carro quando ouviu no rádio pela primeira vez sua canção na voz mais que potente de Whitney Houston, tamanha a emoção que tomou conta dela. (Pablo Bazarello, do Cine Pop)

Whitney Houston finalmente era contratada para estrelar seu primeiro filme, na pele da musa Rachel Marron – um papel que parece ter sido escrito para ela. É dito inclusive que Kevin Costner e o diretor Mick Jackson não queriam que a cantora tivesse aulas de atuação, desejando que sua performance fosse a mais natural e real possível. Além disso, o diretor aconselhou a cantora a abordar cada cena como se fosse uma canção e atuar com esta emoção.

Durante as gravações, nem tudo ocorreu como previsto. Enquanto filmava suas cenas, Whitney Houston sofreu um aborto espontâneo e precisou se afastar da produção por algumas semanas, deixando os realizadores um pouco receosos. Mas a cantora e atriz foi guerreira e retornou para finalizar as gravações. Mesmo que em um de seus afastamentos não tenha podido posar para o clássico poster do filme, em que Costner carrega Rachel no colo – representando um dos momentos mais emblemáticos do longa, no qual o guarda-costas tira a cantora desta forma do meio de uma multidão alterada. No cartaz temos a dublê de Whitney, que não mostra o rosto propositalmente. Ninguém nunca saberia, mas Costner revelou este pequeno segredo recentemente.

 

ORÇAMENTO

Com o orçamento de US$25 milhões e produzido pela Warner, O Guarda-Costas não estreou em primeira posição do ranking das bilheterias em seu lançamento, mas sim em terceiro. O filme não conseguiu desbancar a pesada concorrência de Esqueceram de Mim 2 e Aladdin, filmes mirados para toda a família de censura livre. Apesar disso, a propaganda boca a boca foi fazendo o filme crescer durante sua estadia nas salas de cinema até conseguir uma bilheteria total de US$411 milhões ao redor do mundo, se tornando o segundo filme mais lucrativo de trinta anos atrás nos cinemas, destronado somente pela citada animação da Disney, Aladdin.

Fora isso, com 37 milhões de álbuns vendidos, a trilha sonora de O Guarda-Costas ainda é a mais vendida de todos os tempos, rendendo ainda alguns recordes neste quesito para o filme. O Guarda-Costas ainda receberia duas indicações ao Oscar para canções originais (‘I Have Nothing’ e ‘Run to You’) – as quais foram derrotadas por ‘A Whole New World’, de Aladdin.

Durante um tempo se falou numa possível sequência de O Guarda-Costas, que ocorreria ainda nos anos 1990. Na trama, Frank Farmer (Costner) precisaria lidar com o trauma da morte de Rachel, enquanto encontrava forças para aceitar um novo trabalho protegendo uma nova cantora. Curiosamente, a Princesa Diana havia mostrado interesse no projeto para o papel feminino. Seria no mínimo curioso vê-la como atriz. Infelizmente, Diana viria a falecer num fatídico acidente em 1997. Assim também como Whitney Houston, aos 48 anos em 2012.

O GUARDA-COSTAS (The Bodyguard). EUA, 1992. Gênero: Ação / Drama / Musical. Duração: 129 minutos. Direção: Mick Jackson. Classificação: 14 anos. Elenco: Kevin Costner, Whitney Houston, Gary Kemp, Bill Cobbs, Ralph Waite. Em cartaz no Cine clube Pipoca & Bala Pipper, no auditório da Casa de Cultura, às19h00, nesta terça-feira, 18.

 

Veja o trailer: