No Roxy, uma polêmica sexual envolvendo agente que inspirou filme
‘Som da Liberdade’ chega na telona em Passos em horário antes reservado para temas menos polêmicos
O filme, dirigido pelo mexicano Alejandro Monteverde, se tornou um sucesso de bilheteria inesperado – batendo os novos Missão Impossível e Indiana Jones. Mas isso não se explica por suas inexistentes qualidades. Adotado pela extrema-direita conspiracionista QAnon – uma facção com a qual simpatiza seu astro protagonista Jim Cavizel –, o longa recebeu elogios e defesas de diversas figuras desse espectro, de Donald Trump a Mario Frias.
Se, por um momento, se pudesse ignorar todas as questões políticas envolvendo o filme (embora não seja), e apenas se pensasse nele como cinema apartado do mundo real, mesmo assim seria um longa bastante ruim. Sua trama, mesmo lidando com questões sérias, é, além de previsível, mero veículo para loas ao seu protagonista, um ex-agente da política americana que largou tudo pela causa de salvar crianças sequestradas e vendidas como objetos sexuais.
Ballard, interpretado por Caviezel com o cabelo tingido de loiro, é um homem de classe média, fiel a Deus, casado com uma mulher igualmente loira e temente a Deus, interpretada por Mira Sorvino, e juntos têm um punhado de filhos e filhas. O filme começa na Colômbia, com uma menina, Rocio (Cristal Aparicio), e seu irmão menor, Miguel (Lucás Ávila), sendo aliciados por uma ex-miss (Yessica Borroto Perryman) passando-se por caça-talentos.
Sequestrados, passando por horrores com outras crianças, a dupla acaba separada quando o menino é comprado por um pedófilo americano. Quando esse homem acaba preso por Ballard, o menino conta ao policial que também tem uma irmã, que foi sequestrada e está desaparecia. Essa será a primeira grande missão desse exército de um homem só, mas com muito dinheiro, que corre os maiores riscos para salvar a menina colombiana.
Desnecessário dizer que a América Latina é retratada como um dos círculos do inferno, habitada por criminosos em países sem lei. Não é novidade no cinema americano, mas a maior novidade mesmo é como crianças sequestradas e abusadas sexualmente não se traumatizam e abrem o coração ao primeiro homem que aparece em seu caminho. Outras até cantam e dançam assim que são resgatadas – ou seja, zero trauma.
O roteiro, assinado pelo diretor e Rod Barr, tem momentos dramáticos risíveis e outros conspiracionais mais risíveis ainda – o ponto alto é uma seringa com um chip de GPS que é dada para Ballard e um aliado se injetarem quando irão entrar na floresta para tentar salvar Rocio. Outra coisa que chama a atenção é como as personagens femininas são tratadas: ou são vilãs ou sacrossantas esposas em casa, cuidando do marido e dos filhos, não há uma na equipe de Ballard no filme. Ao contrário da vida real, na qual, segundo as acusações, ele coagiu mulheres a se passarem por sua esposa – com direito a banho conjunto e dividir a cama – para, supostamente, enganar os traficantes de crianças.
SOM DA LIBERDADE (Sound of freedom) EUA, 2023. Gênero: Suspense, Drama.Classificação: 16 anos. Direção: Alejandro Gomez Monteverde. Elenco: Jim Caviezel, Mira Sorvino, Eduardo Verástegui, Javier Godino, Bill Camp. Cine Roxy, em Passos, 18h30 (Dub)
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