Ney Matogrosso regrava "Sangue latino" em duo com Roberta Spindel
Cantor aceitou o convite da artista carioca e pediu que a gravação fosse feita no mesmo tom da original, de 1973
Um dos sonhos da cantora e compositora Roberta Spindel era regravar o clássico “Sangue latino” (João Ricardo & Paulo Mendonça), sucesso lançado pela banda Secos & Molhados. A música foi gravada em 1973, no primeiro álbum do grupo e, portanto, completa 50 anos no próximo mês de agosto, quando o disco foi lançado.
A artista carioca não só conseguiu realizar o velho sonho, mas também fazer uma releitura da canção, convidando o próprio Ney Matogrosso, vocalista original, para dividir os vocais com ela.
Roberta conta que estava já há algum tempo em conversa com Ney Matogrosso, desde a época da pandemia. “Eu o chamava para fazermos um dueto, mas acontece que, antes da vacina, ele ficou recluso, estava se protegendo, é claro. Quando tomou a vacina e começou a fazer shows, sua agenda ficou lotada”, comenta.
“Ney é um fenômeno e tem uma disposição incrível. Acabou que não havia lugar na agenda dele. Foi quando o pessoal da minha gravadora me colocou em contato com o Paulinho Mendonça, que é um dos autores da canção”, lembra Roberta. “Comecei a conversar com ele e descobri que Paulinho até me seguia no Facebook, ou seja, já éramos amigos nas redes. Criamos uma afinidade, e ele ligou para o Ney e perguntou: ‘Ney, por que você não grava o ‘Sangue latino’ com a Roberta Spindel?’. Não foi fácil, mas a gente acabou conseguindo um horário e deu tudo certo.”
Roberta conta que um fato curioso foi que Ney Matogrosso pediu para que a gravação com os dois fosse no tom original, conforme gravado pelo Secos & Molhados. “Fiquei impressionada, porque ele canta com uma voz misturada, com pressão, mesmo com 81 anos. Ney tem uma grande extensão de voz, maravilhosa, com uma vitalidade muscular enorme, uma capacidade incrível, parecendo ter 20 anos.”
Na opinião da cantora, “a música é linda e muito atual; a letra mostra coisas que dissemos naquela época e que vivemos de novo”.
Já tendo gravado também com Caetano Veloso e Zeca Baleiro, Roberta afirma: “A MPB tem sido muito generosa comigo, porque são pessoas que escreveram a história da nossa música. E acho que a gente tem que dar continuidade a isso. Então, é um privilégio ter isso escrito na minha história”.
O arranjo da nova versão do clássico é assinado por Rodrigo Campello. “E ficou lindo”, diz a cantora. “Minha conversa com ele (Campello) era para que a gente conseguisse trazer algo novo, sonoramente falando, mas, ao mesmo tempo, sem mexer na estrutura, porque é um clássico, ou seja, como não desestruturar uma canção que já é um acerto.”
TIMBRE
Ela diz que os timbres de sua voz e da de Ney são parecidos. “Muitos fãs até têm me escrito isso e é uma coisa que notei na hora em que a gente gravou, é que as nossas vozes se confundem de vez em quando. Às vezes, essas coisas acontecem por causa de filtro que se coloca e tratamento, mas quando o Ney acabou de gravar e as nossas vozes ficaram puras, eu mesma pensava: ‘Meu Deus, o que aconteceu?’.”
Ela confessa que foi uma emoção grande gravar com Ney Matogrosso. “Realmente, fiquei muito emocionada em conhecê-lo, pelo quanto ele foi e é importante para a minha construção. Ney também é importante na construção da identidade da música brasileira. Então, foi uma grande honra.”
Sobre sua carreira, Roberta comenta que, quando gravou “Como dois e dois” com Caetano Veloso, “estava começando a carreira e lançando o meu primeiro disco; senti que era uma resposta do universo, falando pra mim: ‘Segue, é isso’”.
Agora, ela voltou a sentir “a mesma coisa com Ney” na gravação do dueto. “Sinto que a minha musicalidade chegou a uma maturidade nesse lugar. Todas essas participações me puxam para um lugar lindo deles, um lugar rico dessa construção da música brasileira.”
Agora a cantora planeja se dedicar ao projeto de um disco gravado ao vivo em estúdio, com voz, violão e guitarra. “Isso já está na agulha para lançar ainda este ano. Porém, volta e meia surge uma oportunidade muito legal como essa com o Ney, e a gente acaba gravando e colocando na frente. 2023 será um ano de shows e espero me apresentar em Minas Gerais também”, afirma.
A gravação contou com a direção artística de Lúcio Fernandes Costa, produção musical de Rodrigo Campello, que também fez o arranjo e tocou violão, guitarra e teclados. Participaram ainda os instrumentistas Marcos Suzano (percussão), Federico Puppi (cello) e Pedro Mibieli (violinos e viola).
Veja o single-clipe de Roberta Spindel, com a participação de Ney Matogrosso: