Netflix surpreende com um tubarão em Paris

Tubarão em água doce? Essa e outras perguntas sobre filme 'Sob as Águas do Sena'

Netflix surpreende com um tubarão em Paris
Bérénice Bejo vive a cientista Sophia neste filme que já é o mais visto na plataforma (Divulgação)

Um tubarão gigante aparece no rio Sena, em Paris. A cidade está prestes a sediar o Campeonato Mundial de Triatlo. Em 24 horas, cientistas e polícia precisam correr para evitar que os atletas sejam devorados embaixo d’água.

Essa é a sinopse de Sob as Águas do Sena, filme da Netflix lançado no início de junho. A produção francesa tornou-se a mais vista pela plataforma e provocou uma série de perguntas. É uma história real? Um tubarão pode sair do mar e subir um rio? Afinal, dá para nadar no rio Sena?

A história não é baseada em fatos reais. Nem é possível que um tubarão saia do mar para nadar pelas águas tranquilas de um rio, afirma Sébastien Brosse, do Centro Nacional Francês de Investigação Científica (CNRS), ao jornal francês Le Monde.

"Em geral, tubarões não nadam em rios. A exceção é o tubarão cabeça-chata, que pode viajar por milhares de quilômetros até os rios da Amazônia, mas ele só habita zonas tropicais", explica. Ou seja, bem longe de Paris.

No longa dirigido pelo francês Vincent Dietschy, a cientista Sophia (Bérénice Bejo) é alertada pela ativista ambiental Mika (Léa Leviant) que o tubarão está se aproximando de Paris e, além de caçá-lo, é preciso de discrição para evitar o pânico na cidade.

Isso envolve armamento pesado de policiais, cenas de mergulho claustrofóbicas e encontros inesperados com o tubarão, que se tornou mais agressivo após parar em um local tão inóspito e com pouca oferta de comida.

No site Rotten Tomatoes, que organiza a opinião de críticos do mundo todo, a produção é elogiada pelas cenas sangrentas e pela ação intensa na caça ao animal.

Apesar de impossível se avistar um tubarão no Sena, até o século 19 há registros de espécies nadando pelo rio, como botos e peixes de grande porte, como o esturjão, afirma o especialista à publicação francesa.

Não à toa, Sob as Águas do Sena se inspirou em casos reais, como uma baleia beluga e uma orca, mortas por causas naturais no rio, em 2022. Os especialistas ainda estudam como os animais chegaram até ali, já que há uma série de barreiras ao longo da estrutura

 

NADAR EM UM RIO POLUÍDO

 

Outro fator chamou a atenção nas redes: é possível nadar no Sena?

Há 100 anos, o rio tornou-se impróprio para nado. Naquela época, começou a receber esgoto da população que crescia na capital francesa. Até então, era comum provas de natação e pesca serem sediadas no Sena.

Ao longo dos anos, os dejetos passaram a ser encaminhados às centrais de tratamento, mas parte ainda era escoada para o rio que corta Paris.

Há 20 anos, a prefeitura parisiense começou a desenvolver um sistema de bombeamento subterrâneo para receber o excesso de esgoto, armazená-lo em galerias e, assim, evitar escoá-lo para o rio, especialmente nos períodos mais chuvosos.

Com a chegada das Olimpíadas de Paris, em julho, o governo francês afirma ter investido o equivalente a R$ 7,3 bilhões para permitir que o Sena receba provas como triatlo, paratriatlo e natação.

A limpeza é uma grande vitrine do governo e também estará em parte da cerimônia de abertura dos Jogos. As notícias são boas: é improvável que a pesca retorne, mas, segundo a prefeitura de Paris, haverá pontos de natação abertos à população geral até 2025 e bagres já foram identificados a nadar pelo Sena - e nenhum tubarão.

 

Veja o trailer: