'Não Fale o Mal' é raro caso de remake americano que supera o original

James McAvoy e Mackenzie Davis tomam conta da história, que é mais ritmada e com ideias melhores do que o filme original, da Dinamarca

'Não Fale o Mal' é raro caso de remake americano que supera o original
James McAvoy é a grande estrela da refilmagem 'Não Fale o Mal', em exibição no Cine Roxy (Divulgação)

Como é típico com remakes estadunidenses de filmes estrangeiros, Não Fale o Mal é uma versão para multiplexes de um filme que, originalmente, tinha mais pretensões artísticas. Refilmagem do recente homônimo dinamarquês (faz apenas dois anos que foi lançado), o longa de James Watkins tenta passar-se por algo mais complexo, quando, no fim, mostra que é mesmo só mais uma produção hollywoodiana bastante previsível, mesmo mudando elementos do original. O filme estreou na semana passada no Brasil e chega nesta quinta-feira no Cine Roxy, em Passos.

Tudo começa com uma viagem à Itália, onde o casal de americanos Louise (Mackenzie Davis) e Ben (Scoot McNairy) conhece Paddy (James McAvoy) e Ciara (Aisling Franciosi). O fato de ambos terem filhos da mesma idade acaba os aproximando. Agnes (Alix West Lefler), filha dos primeiros, tem síndrome do pânico e só se acalma com seu coelho de pelúcia. Já Ant (Dan Hough), filho do outro casal, nasceu com uma estranha condição: ele não tem língua, e, por isso, tem dificuldade de falar e se aproximar das pessoas. 

Apesar da resistência de Louise, os quatro se tornam amigos e, pouco tempo, depois ela, o marido e a filha deixam a chuvosa Londres para passar uma temporada na fazenda do outro casal, que, não custa muito, se revela estranho. Os melhores momentos do filme de James Watkins vêm exatamente do choque, de como os americanos reagem àquilo que imaginam ser a excentricidade dos novos amigos ingleses. Mas não é.

A trama cozinha em fogo brando, apenas aumentando a angústia das personagens e do público de que algo irá acontecer, mas o que? Não é muito difícil se antecipar aos caminhos do roteiro, uma vez que insiste nas pistas óbvias o tempo todo. Mostra um estilete, e, é claro, esse estilete terá uma função fundamental numa cena. Dá um close numa pequena escultura, e, é óbvio, que ela fará parte de alguma coisa num momento climático. 

Por três quartos do filme, o diretor até consegue se segurar, manter o clima opressivo de dúvida e insegurança mas, quando chega à reta final, deixa a sugestão de lado e abraça a obviedade. O momento climático perde sua força exatamente por já ter se tornado um spoiler, para usar um termo bem contemporâneo, ao longo do filme. Não há reviravoltas, tudo é como se imagina. 

Por outro lado, apesar da direção sem personalidade de Watkins, há atuações que se destacam. A de McAvoy não é uma delas. Ele entrou no modo psicopata desde Fragmentado, e parece viver versões desse(s) personagem(s). Porém, Davis, como a americana desconfiada, e West Lefler, como a menina frágil que se torna forte durante o filme, estão excelentes. Mas a grande revelação é o pequeno Hough (que não compartilha da mesma deficiência de seu personagem), que estreia no cinema de forma marcante, combinando a fragilidade com a força de um menino que se rebela contra seus abusadores. (Alysson Oliveira, do Cine Web)

 

NÃO FALE O MAL (Speak No Evil). EUA, 2024. Gênero: terror. Classificação: 18 anos. Direção: James Watkins. Elenco: James McAvoy , Mackenzie Davis , Aisling Franciosi. Cine Roxy, em Passos.

 

Veja o trailer: