Jerônimo Netto, que pintou o interior da Matriz de Passos, ganha documentário

“Jerônimo Netto – Arte, Legado e Mensagem”, um documentário, será lançado nesta sexta-feira, 25, às 20h, na Igreja Matriz de Passos. A obra, que tem 70 minutos de duração, mostra passagens da vida do artista responsável pela pintura do interior da Matriz do Senhor Bom Jesus dos Passos.

De acordo com o diretor do documentário e bisneto de Jerônimo Netto, Vicente Abreu, a ideia de produzir o filme não é recente, mas só foi possível ser encaminhada e concluída neste ano, após ser aprovada no edital da Lei Paulo Gustavo.

“A ideia nasceu há alguns anos. Quando o padre Luiz Lemos se aposentou da Matriz, meu irmão, Zezé Abreu, emitiu uma nota na Folha da Manhã agradecendo ao padre por ter promovido restaurações nas obras de Jerônimo Netto. Celso Faria, passense, violonista profissional radicado em BH, viu essa nota e procurou o Zezé dizendo que seria interessante fazer um documentário sobre Jerônimo Netto”, disse o diretor.

“Zezé falou sobre mim, Vicente Abreu, a ele, pois sou diretor de TV e trabalhei durante 40 anos na Rede Século 21, em Campinas e Valinhos. Aí começamos com algumas gravações. Mas o projeto só ganhou força quando eu já morava em Passos, depois de ter me aposentado da TV, e a prefeitura lançou a Lei Paulo Gustavo. Então, inscrevi esse projeto e fui aprovado. Aí, sim, fizemos várias gravações que deram uma coluna vertebral ao documentário”, completou.

A produção revela novas informações sobre a vida e obra de Jerônimo Netto e intercala momentos de documentação com dramatização. Esse último protagonizado por Matheus Prudêncio, escalado para interpretar o grande pintor mineiro e que chama a atenção por conta da grande semelhança física com o biografado.

“Quanto ao ator que fez Jerônimo Netto, foi um presente de Deus. Matheus Prudêncio. Encontrei-o na Igreja São Benedito. Pela semelhança com Jerônimo Netto, me aproximei e perguntei se ele topava atuar. Ele compreendeu e topou. Aí apareceram várias ‘coincidências’, que mostram o carinho do Pai do Céu: Matheus tem 36 anos, a mesma idade de Jerônimo quando começou a fazer as pinturas da Matriz. É marceneiro, a primeira profissão de Jerônimo Netto! Matheus é sócio da Fábrica Cadeiras Canastra”, disse Vicente.

“O documentário terá algumas cenas dramatizadas, com efeitos especiais que simulam Jerônimo pintando telas gigantes, pintando sobre andaimes na Matriz e outras cenas interessantes”, completou.

AUTODIDATA

Jerônimo Neto foi um pintor autodidata, que deixou uma obra extraordinária na Igreja Matriz Senhor Bom Jesus dos Passos, em 1929. A beleza de suas pinturas emocionou gerações tornando aquele espaço um local de encantamento e elevação espiritual.

“As obras, de tamanhos gigantescos, algumas medindo 5x6 metros, escondem mensagens, tanto nas obras em si, quanto na disposição de cada uma dentro da igreja e revelar esses mistérios é uma das metas do documentário. É sabido que na Matriz ele pintou réplicas de obras clássicas renascentistas de famosos, como o italiano Raphael Sânzio e na realização do documentário eles buscaram responder às perguntas: ‘Como ele teria tido acesso a essas obras entre os anos 1927 e 1929, numa cidade de 10 mil habitantes, com pouquíssimo material impresso com qualidade? Que tipo de material chegou às suas mãos para ele fazer réplicas tão perfeitas? Quem são os autores originais de cada obra? Existem obras autorais de Jerônimo Netto na igreja de Passos? Quais são suas referências, que artistas o influenciaram?’, indaga o autor do documentário.

“Eduardo Fráguas, professor especialista em História da Arte, em Campinas, foi quem fez a comparação detalhada entre as obras originais e suas réplicas”

O filme traz também algumas entrevistas: com Pe. Luiz Lemos - ex pároco da Igreja Matriz e responsável pela restauração nas obras de Jerônimo Netto, se tornando um grande conhecedor da sua vida e obra; com Marco Ajeje - artista plástico e restaurador responsável pela restauração das obras de Jerônimo Netto; Geraldo Torres - restaurador que também atuou na restauração das obras; Cesar Tadeu Elias - arquiteto passense, conhecedor da história da Matriz; Natália Abreu - neta de Jerônimo Netto, conhecedora das histórias do avô na família e dona de um autorretrato do artista; José Graia Filho - filho de João Graia, que foi o auxiliar de Jerônimo Netto nas pinturas da igreja; Pe. Gledson Domingos - atual pároco da Matriz.”

Outro material que enriqueceu demais o roteiro desse filme foram as memórias escritas de dona Fé Conceição, filha de Jerônimo Netto. Antes de falecer, ela escreveu as memórias que tinha do pai e entregou ao Marco Ajeje (na época em que ele estava trabalhando na restauração dos quadros na Igreja Matriz) e Marco cedeu aos produtores uma cópia desse material, o que deu ao filme um toque de delicadeza, força, beleza e emoção.

Outro fato marcante na realização do documentário, segundo os idealizadores, foi a descoberta de Matheus Prudêncio, que atuou como Jerônimo Netto! “Encontrado por uma daquelas ‘coincidências’ incríveis, nas quais a gente vê claramente a mão de Deus. Matheus impressiona pela semelhança com Jerônimo Netto, depois de caracterizado. É também marceneiro, fabricante de cadeiras em Passos, sendo esta a primeira profissão de Jerônimo Netto. Além disso, Matheus tem a mesma idade de Jerônimo Netto quando pintou a Igreja Matriz: 36 anos.”

Vicente Abreu, diretor do documentário e bisneto de Jerônimo Netto (Divulgação)

Pintor tem 9 obras fora da igreja Matriz de Passos

Durante a produção do documentário, Vicente Abreu descobriu outras nove obras produzidas por Jerônimo Netto que estão fora da Igreja Matriz, e que serão mostradas durante o longa, que será transmitido em painel de led e, posteriormente, disponibilizado em plataformas online.

“A estrutura de roteiro busca desvendar alguns mistérios que rondam a obra de Jerônimo Netto. Sabe-se que a maior tela do teto da Matriz é a Transfiguração, uma obra do renascentista italiano Rafael Sanzio. Porém, ninguém sabia se as outras telas eram obras autorais de Jerônimo Netto ou se eram também réplicas. E fossem réplicas, quem seriam os outros? Onde estariam os originais? Além disso, existem mensagens nessas obras? Se sim, quais se riam? Essas perguntas nortearam nossa pesquisa. E encontramos as respostas! Elas estão no documentário”, disse o diretor.

“Além disso, pesquisamos sobre a vida de Jerônimo e descobrimos coisas in críveis. Posso dizer que ele tem uma linda história de superação e que deixou um legado impressionante. Descobrimos também nove quadros de Jerônimo Netto que estão fora da Igreja Matriz”, completou.

A equipe de produção do documentário é composta por Vicente Abreu (direção, roteiro, câmera, redação e edição), Adriana Morato (produção), Silvia Vasconcelos (produção), José Octaviano de Abreu (produção executiva), Daniel Morato Abreu (câmera, drone, direção de fotografia e efeitos especiais), Gustavo Freitas Abreu (narração) e Catarina Pinheiro (narração).

Além da exibição que acontecerá nesta sexta, dia 25, a equipe pretende realizar outras exibições antes de disponibilizar o filme documentário nas plataformas digitais. As datas de futuras transmissões ainda serão definidas.