Itamar Bonfim — O Homem que Enxergava com a Alma
Cronicando

Há pessoas que não partem — se expandem. Que não morrem — se eternizam.
Itamar Bonfim foi uma dessas raridades. Um artista de múltiplas visões, criador de mundos, domador da luz, escultor de memórias. Quando todos apenas olhavam, ele via. E, quando via, criava. Criava imagens que falavam mais do que palavras, documentários que nos devolviam a identidade e nos aproximavam daquilo que havíamos esquecido de sentir: orgulho, beleza, pertencimento.
Itamar era o olho sensível de Passos, o coração pulsante da Videorama, a lente afetuosa que emoldurava histórias e as projetava com carinho sobre a tela da cidade. Em sua caminhada pela UEMG, na promoção de projetos culturais, deixou marcas que o tempo não apaga — sementes de sensibilidade e arte que continuarão brotando por gerações. Seu nome tornou-se sinônimo de um tempo em que o cinema local tinha voz, rosto e alma.
Ao pensar em documentários, imediatamente surgem as imagens de sua Videorama. Mais que uma empresa, era um templo sagrado onde a pipoca e a bala Pipper se transformavam em oferendas de afeto à sétima arte. Entre os risos e silêncios da plateia, nas sessões do Cineclube Pipoca & Bala Pipper, o espetáculo não estava apenas na tela — mas no ato de reunir pessoas para sonharem juntas.
Era isso que Itamar fazia como poucos: evocava emoções. Multiplicava beleza. Acendia estrelas no olhar de quem assistia, de quem sentia. Com sua câmera, contava histórias que não estavam nos livros, mas nas almas. E, com sua magia simples, dava voz aos esquecidos, brilho aos anônimos, eternidade ao efêmero.
Agora, sob as bênçãos do céu, ele estreia sua última obra:
"A Magia e o Talento em Fazer as Pessoas Felizes pelas Artes Visuais"
Gênero: Saudade
Roteiro: Verdade
Direção: Amor
Participações especiais : Gustavo José Lemos e Antônio Theodoro Grillo (na sala de espera)
Local da exibição: Anfiteatro da Eternidade
Sessões: Diárias, sob o olhar complacente de Deus e os aplausos de todos que amaram a arte
A arte visual perdeu parte de sua identidade com sua partida em 14 de abril, mas não perdeu o encantamento. Porque o encantamento permanece. Ele vive agora nos filmes que eternizou, nas memórias que construiu, nos aplausos que ainda ressoam pelos corredores da cultura.
Itamar Bonfim deixa — com nobreza — sua esposa, Fátima Bonfim, familiares, amigos e fãs ardorosos de seu rico e apaixonado trabalho. E é a todos eles — e a toda Passos — que oferecemos esta homenagem: singela, mas profundamente verdadeira.
Itamar Bonfim não foi apenas cinegrafista — foi profeta estelar de uma geração que soube amar e servir à arte. Ao partir, deixou um rastro de luz, desses que só quem soube enxergar com a alma é capaz de imprimir no mundo.
Descanse em paz, Itamar. Sua missão foi cumprida com louvor. Seu nome, como sua arte, já é imortal.
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado e cronista. E-mail: luizgfnegrinho@gmail.com