Governo Lula sem ministro do PT de Minas frustra diretório estadual

Pela primeira vez, um presidente eleito pelo partido não terá um mineiro petista à frente de uma das pastas do primeiro escalão

Governo Lula sem ministro do PT de Minas frustra diretório estadual
Para Cristiano Silveira, a ausência de um petista mineiro entre os ministro traz

O anúncio do futuro Ministério do presidente Lula não foi bem recebido em Minas Gerais nesta quinta-feira, 29. Principalmente pelos petistas e pelos principais órgãos de imprensa do Estado. Mas o gabinete sem um petista de Minas Gerais frustrou principalmente o diretório estadual do PT. Até então, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff iniciaram o mandato com pelo menos um ministro das hostes do PT de Minas Gerais. Agora, o único entre os 37 ministros do terceiro mandato de Lula à frente da presidência da República será o senador Alexandre Silveira, do PSD, cuja cota é para acomodar os pessedistas na base do governo no Congresso Nacional. 

O presidente do PT de Minas Gerais, Cristiano Silveira, embora diga que tem muita esperança no governo Lula, admite a frustração. Questionado a que atribui a ausência, Cristiano afirma que todos querem saber as respostas. “São Paulo tem oito ministros. Outros estados em que Lula nem foi vitorioso, como o Rio de Janeiro, vão ter ministros. Por que o PT de Minas Gerais, o único estado do Sudeste onde (Lula) venceu em 1º e 2º turno, não foi lembrado?”, indaga o deputado estadual.

Cristiano questiona se a decisão foi de Lula ou de “outros atores trabalhando contra Minas”. “Todos diziam que Minas é a síntese do Brasil. Se o candidato (à presidência) vencesse em Minas, venceria no Brasil. Nós trabalhamos muito para que isso acontecesse e, por fim, Minas Gerais não está lá? É isso o que a gente quer entender”, afirma, lembrando que, “há mais de um ano antes da eleição”, o diretório já havia decidido que o principal compromisso seria eleger Lula.

O presidente do PT de Minas ainda observa que, durante o 2º turno, quando o governador Romeu Zema (Novo), já reeleito, explicitou o apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro em Minas, a campanha foi “muito dura”. “Mesmo assim, nós seguramos, Minas segurou. O deputado Reginaldo Lopes, que foi o coordenador da campanha, fez um grande trabalho. Claro, junto aos aliados. Então, assim, tem um sentimento de frustração, sem dúvida alguma”, acrescenta. No fim, Lula ficou à frente de Bolsonaro em Minas por apenas 49.650 votos.

 

REGINALDO LOPES

O deputado federal Reginaldo Lopes, líder do PT na Câmara, era justamente o mais cotado para a Esplanada dos Ministérios. Interlocutores trataram a indicação de Reginaldo para o o Desenvolvimento Agrário como “bem encaminhada”, mas, no final das contas, o deputado federal foi rifado por Lula para acomodar o União Brasil. Inicialmente apontado para assumir o Ministério das Comunicações, o deputado federal Paulo Teixeira,  do PT-SP, foi levado para o Desenvolvimento Agrário, já que Juscelino Filho (União) ficou com as Comunicações.

Antes, Reginaldo já havia sido escanteado em meio à disputa pelo Ministério da Educação. Mesmo apoiado pelo ex-ministro do Turismo e da Secretaria de Relações Institucionais Walfrido dos Mares Guia e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), o líder do PT na Câmara dos Deputados foi preterido por Lula, que optou por indicar o ex-governador do Ceará e senador eleito Camilo Santana (PT) para a pasta.

Conforme Cristiano, a frustração permanecerá mesmo caso quadros do PT em Minas integrem o segundo escalão. “Sempre, em quatro governos do Partido dos Trabalhadores no Brasil, o PT mineiro teve os seus quadros participando do primeiro escalão. Podemos ter companheiros participando de outros espaços - não tenho dúvida que teremos -, mas a fotografia que fica não é uma boa imagem, não é um bom reconhecimento de Minas Gerais”, aponta.

 

ELITE POLÍTICA DE MG PERDE

A decisão do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva de escolher apenas um ministro mineiro em uma ‘barca’ de 37 pastas no governo federal é um atestado cabal da perda de relevância do Estado na política nacional. A pasta de Minas Energia, que será comandada por Alexandre Silveira parece, no máximo, uma consolação ao Estado que garantiu uma vitória apertada de Lula sobre o presidente Jair Bolsonaro.

Olhando pelo simbolismo da decisão, a presença de Silveira como único mineiro na Esplanada dos Ministérios, a partir de 2023, pode ser lida mais como uma recompensa pessoal a ele do que um sinal de prestígio ao segundo maior colégio eleitoral do país. A inegável disposição de Silveira de se distanciar do projeto histórico do PSDB - ao qual ele foi ligado por anos a fio em Minas - e ‘abraçar a estrela vermelha’ em carreatas e passeatas com a militância lulista rendeu o esperado ao senador derrotado neste ano. Como dizem os americanos, uma ‘win-win situation’ para o PT e o PSD. Os pessedistas satisfeitos com o espaço em uma pasta de influência no Planalto e os petistas carreando apoio do PSD para tentar solidificar uma base de apoio a Lula no Congresso.

Com o prisma da ‘mineiridade’ que é característico de boa parte de nós, é impossível não se incomodar com a parca presença de mineiros no Planalto. Tem pouco a ver com a expectativa de ver políticas públicas direcionadas à solução de problemas do Estado - expansão do metrô, duplicação da BR-381, relicitação da BR-040, etc - e muito com a  redução da importância dos políticos de Minas Gerais onde decisões são tomadas em Brasília.

Os últimos mineiros a ocupar uma cadeira na Esplanada, ainda no governo Bolsonaro, foram Marcelo Álvaro Antônio (PL), titular da pasta do Turismo, e Marcos Montes (PSD), este último que ainda tem pouco mais de dois dias de mandato à frente do Ministério da Agricultura. Ambos estão longe de fazer parte de uma elite política de Minas Gerais.

Para o Estado que se acostumou a ter protagonistas - entre derrotados e vitoriosos - nas disputas presidenciais e no Palácio do Planalto antes e durante a vida democrática do país, ver o espaço de Minas minguar deveria acender um sinal de alerta na classe política local. Tancredo e Aécio Neves, José Alencar, Itamar Franco, Saraiva Felipe, Dilma Rousseff, Fernando Pimentel, Patrus Ananias, Anderson Adauto, Hélio Costa, Nilmário Miranda, Antônio Andrade, Walfrido dos Mares Guia e tantos outros nomes mineiros que sempre ocuparam o centro do poder no país parecem, cada dia mais, um retrato na parede.

NILMÁRIO MIRANDA ASSUMIRÁ ASSESSORIA NO MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS

 O ex-deputado federal Nilmário Miranda (PT) foi secretário especial de Direitos Humanos durante o primeiro governo do presidente Lula (Alex de Jesus/O TEMPO)

A convite de Silvio Almeida, o ex-deputado federal Nilmário Miranda (PT) retornará ao Ministério dos Direitos Humanos. Nilmário – que tem uma relação familiar em Passos, onde reside uma filha –  irá chefiar a futura Assessoria Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade. Durante o primeiro mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Nilmário foi secretário especial de Direitos Humanos. À época, a pasta tinha status de ministério.

O ex-deputado já havia integrado o grupo de trabalho de Direitos Humanos durante o gabinete de transição. A criação da Assessoria Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade atenderá a uma sugestão do grupo. A intenção é retomar os trabalhos regulamentados pelo Regime do Anistiado Político - Lei 10.559, de 2002 - e da Lei dos Mortos e Desaparecidos - 9.140, de 1995.

Hoje, a observação das leis é de competência da Comissão de Anistia e da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Entretanto, a última, por exemplo, foi extinta em decisão colegiada dos próprios membros a 15 dias do fim do governo Jair Bolsonaro (PL). A Comissão de Anistia, por outro lado, permanece no organograma do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, mas sob críticas pela paralisia ao analisar pedidos de anistia.

Além de ter sido secretário especial de Direitos Humanos, Nilmário foi deputado federal por três mandatos entre 1991 e 2003. Em 1995, o então deputado federal foi o primeiro presidente da Comissão de Direitos Humanos. Ele ainda retornou à Câmara dos Deputados como suplente em 2013, quando encerrou a legislatura após substituir Paulo Piau, eleito prefeito de Uberaba, e em 2016, temporariamente, quando Mauro Lopes assumiu o Ministério da Aviação Civil.

Antes de chegar a Brasília, Nilmário foi deputado estadual constituinte entre 1987 e 1991. Em 2022, assim como em 2018, o ex-deputado federal até tentou um novo mandato na Câmara, mas sem sucesso. O ex-secretário especial de Direitos Humanos ainda foi candidato ao governo de Minas em 2006 e à Prefeitura de Belo Horizonte em 2020.