‘Gladiador II’, no Roxy, é ‘o melhor filme de entretenimento do ano'
Embora fictício, Gladiador 2 se baseia em figuras históricas reais para criar a história; conheça o verdadeiro Lucius Verus II; filme foi bem recebido pela crítica
Por alguma razão, cineastas veteranos andam obcecados pelo Império Romano. É o caso do norte-americano Francis Ford Coppola e seu futurista Megalópolise também do britânico Ridley Scott em Gladiador II, a aguardada sequência de seu filme de 2003, vencedor de 5 Oscars que chega hoje aos cinemas nacionais.
Se 21 anos atrás Scott ressuscitou o épico romano, arrasou na bilheteria e também nas premiações, agora as apostas são outras. Se ele finalmente conseguiu apropriar-se do controle da sequência de um de seus maiores sucessos - que lhe escapou, no caso de Alien e de Blade Runner - e contou com um orçamento bem mais astronômico do que o filme original (fala-se em US$ 310 milhões), a verdade é que a sequência está bem longe de repetir o brilho do filme de 2003, ainda que tenha sua energia, potencial de entretenimento e, acima de tudo, um elenco com vários astros. Todos fatores nada desprezíveis.
O astro Paul Mescal na pele de Lucius Verus II, uma versão ficcional de uma figura histórica real (Divulgação)
Se Gladiador II fizer por Paul Mescal metade do que fez por Russell Crowe no primeiro filme, estará de bom tamanho. Afinal, Mescal, figurinha carimbada das produções independentes, como Aftersun e Todos Nós Desconhecidos, está ganhando seu ingresso no mundo das superproduções, encarnando um papel que lhe abre inúmeras outras possibilidades na carreira. Talento e carisma não faltam ao ator irlandês.
Ocupando a vaga de herói deixada por Maximus (Russell Crowe), Mescal interpreta Hanno, morador da última cidade africana livre ainda do jugo dos romanos. Na batalha para sua conquista, comandada pelo general Acacius (Pedro Pascal), Hanno luta ardorosamente, ao lado de sua mulher, Arishat (Yuval Gonen). Mas a luta dessa cidade multiétnica está fadada à derrota diante das imensas legiões e navios romanos. Exímia arqueira, Arishat é morta em combate e Hanno, feito prisioneiro.
Vida de escravo na Roma antiga não raro equivalia a ter que lutar pela própria vida numa arena, para divertimento das multidões. É o que acontece com Hanno, cuja habilidade para lutar é rapidamente identificada por Macrinus (Denzel Washington), um rico proprietário de gladiadores.
De personalidade ambígua e ambição sem limites, Macrinus enxerga o potencial de Hanno para disputar as batalhas de vida e morte travadas no Coliseu, para deleite do povo e dos irmãos imperadores, Geta (Joseph Quinn) e Caracala (Fred Hechinger), ambos personalidades perversas e fúteis.
A nova conquista de Acacius desperta nos imperadores a vontade de invadir outras terras, aumentando os domínios de um império já imenso e de difícil administração, inclusive das insatisfações, tanto populares quanto entre a própria elite e suas múltiplas ambições. Acacius, porém, não deseja mais guerras e está envolvido num levante secreto contra os imperadores.
Mulher de Acacius, Lucilla (Connie Nielsen, que atuou no primeiro filme), também não deseja outra coisa do que a volta do império a tempos menos violentos, como sob seu pai, o imperador Marco Aurélio.
Aprisionado e obrigado a lutar por seu senhor, tudo o que Hanno deseja é vingar-se de Acacius, que matou sua mulher e destruiu sua cidade. Mas reside aí um outro conflito, já que Hanno, na verdade, é Lucius, o filho de Lucilla e Maximus que ela mandou para longe para salvar a vida do menino.
Se há um aspecto do roteiro, assinado por David Scarpa e Peter Craig, que poderia ter sido mais bem desenvolvido é esta ambiguidade de Hanno/Lucius sobre a própria identidade - que não tarda a ser percebida por sua mãe. A maneira como se trabalha primeiro a rejeição total do príncipe à sua mãe e sua posterior transição para assumir seu papel de liderança é um tanto abrupta. Poderia ter sido mais bem construída dentro da narrativa, já que qualidades dramáticas não faltam a Mescal para isso.
Ao que tudo indica, o diretor optou por conduzir sua história em linhas mais rasgadas, deixando qualquer sutileza pelo caminho, gastando a energia do filme em muitas - e até esperadas - sequências de lutas sangrentas, algumas envolvendo animais (animatrônicos, felizmente). O sangue jorra copiosamente neste épico, que se esbalda, também, na malvadeza explícita não só dos imperadores como do insinuante Macrinus - um papel em que o veterano Denzel Washington parece ter-se divertido muito.
Enfim, em tempos em que lutas de MMA fazem sucesso, um épico com tantos recursos sonoros e visuais não há de ficar abandonado, e nem é o caso. Afinal, tantas superproduções sobre super-heróis dos quadrinhos não podem reivindicar serem muito mais refinadas. (Neusa Barbosa/Cineweb)
Gladiador II (Gladiator II). EUA, 2024. Gênero: Épico , Drama. Duração: 150 minutos. Classificação: 16 anos. Direção: Ridley Scott. Elenco: Paul Mescal , Denzel Washington , Pedro Pascal , Connie Nielsen. Cine Roxy, em Passos, 20h45