Envenenamento por agrotóxicos matou milhões de abelhas em Paraíso
Desde setembro do ano passado, pelo menos 10 apicultores registram o problema na zona rural
Apicultores de São Sebastião do Paraíso convivem com as mortes de milhões de abelhas desde setembro do ano passado. Pelo menos dez apicultores da região registraram o problema. Um laudo apontou que as abelhas morreram de envenenamento por agrotóxicos.
"Essas abelhas estão nesse apiário de 4 pra 5 anos e nunca teve problema. De uns 2 anos pra cá mais ou menos, com a introdução de alguma cultura aqui em volta, a gente veio percebendo que veio morrendo abelha, mas não era nessa quantidade, morria as campeiras, mas o enxame continuava forte, com dois, três meses recuperava, mas desta vez não, desta vez morreram as abelhas tudo", disse o apicultor Marcelo Francisco Ribeiro.
Só em uma propriedade, mais de 850 mil abelhas foram encontradas mortas. O prejuízo ainda não foi calculado.
"É um prejuízo grande, porque você vem montar desde caixa, até você por melgueira, até que você põe cera e vai levantando o exame, e tem alimentação também, você tem um gasto enorme sobre esses enxames, a gente fica meio constrangido às vezes e pensa em até abandonar a profissão", disse o apicultor Valdivino Augusto Alvim.
Para tentar entender o que aconteceu na propriedade, o produtor procurou um laboratório no interior de São Paulo para que os insetos mortos fossem examinados. O teste apontou que as abelhas morreram por envenenamento devido ao alto índice de agrotóxicos.
"Eu fiz análise e constou veneno proibido e constou inclusive "Aldicarbe", que é conhecido como chumbinho, que pode matar uma pessoa e isso saiu na análise das minhas abelhas", disse o apicultor Marcelo Francisco Ribeiro.
O exame revelou que pelo menos cinco agrotóxicos foram encontrados em quantidades elevadas nas abelhas mortas, entre eles Glifosato, Clorpirifós, Permetrina, Propanil e Trifluralina, agrotóxicos utilizados para controle de pragas.
Segundo o doutor em Ecologia, Hipólito Ferreira Paulino Neto, alguns desses inseticidas já foram banidos em outros países, mas ainda são usados no Brasil.
"Se a toxicidade é alta e está sendo alta no Brasil, é bem comum isso, especialmente agora que teve uma liberação de quase 1,6 mil agrotóxicos que são banidos na União Europeia, nos Estados Unidos e aqui no Brasil é utilizado e até muito comercializado, elas intoxicam, começam a morrer e afetam todo um sistema, que é de comportamento das abelhas, por exemplo, o comportamento higiênico, de limpeza da colônia, de tirar pragas que afetam a colônia internamente ou de detectar abelhas doentes para não espalharem para a colônia inteira, afetam o comportamento defensivo daquela colmeia, ela fica vulnerável, o mel e o pólen, estão contaminados", disse o professor.
As abelhas são agentes polinizadores, ou seja, garantem a reprodução das plantas. A morte ou desaparecimento desses insetos são prejudiciais à humanidade, segundo o professor.
"As abelhas correspondem a 75% da polinização e da produção dos alimentos que o ser humano utiliza para viver. É muito surreal, o Homo sapiens, a nossa espécie chama Homo sapiens e sapiens, de sabedoria, a gente está agindo de forma totalmente ao contrário disso, não sábia e matando os polinizadores, matando quem produz a comida pra gente", completou o professor.