Eletrobras aprova incorporação de Furnas; subsidiária deixará de existir
Empresa vai assumir todos os ativos e funcionários da subsidiária
Os acionistas da Eletrobras aprovaram na quinta-feira, 11, a incorporação de Furnas após uma briga judicial que adiou a Assembleia Geral Extraordinária que estava marcada inicialmente para 29 de dezembro.
Uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, cassou as liminares de outras instâncias que impediam a realização da AGE. As ações contra a incorporação foram movidas pela Associação dos Empregados de Furnas (Asef).
Pela proposta, feita em novembro, a Eletrobras vai assumir todos os ativos e funcionários de Furnas, que deixará de existir. Não haverá troca de ações nem aumento de capital, já que a holding é a única acionista. O objetivo, segundo a empresa, é melhorar a governança e reduzir os custos com a simplificação da estrutura da empresa.
“Após a verificação das condições suspensivas, a incorporação ocorrerá na data a ser definida pelo Conselho de Administração da Eletrobras. A incorporação de Furnas representa marco importante à reorganização societária da Eletrobras e simplificação de sua estrutura conforme previsto no Plano Estratégico”, informou a Eletrobras em comunicado ao mercado.
REPERCUSSÃO NO MERCADO
A incorporação de Furnas pela Eletrobras, tem como principal finalidade a busca por uma maior eficiência da empresa. Para alguns especialistas ouvidos pelo IM Business - canal de notícias sobre Negócios lançado pelo InfoMoney, um site de investimentos, finanças e economia - a unificação dos ativos, que já estava programada para acontecer há alguns meses, deve aliviar significativamente o custo administrativo da operação, com a redução de tributos e cargos duplicados na estrutura organizacional.
“A privatização da empresa começa a dar resultado, permitindo que ela tenha uma redução brutal de custo e que possa pegar esse dinheiro para investir mais no business dela, que são as linhas de transmissão e a geração de energia, melhorando a qualidade da prestação dos serviços”, afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Estima-se, segundo duas fontes ligadas à empresa consultadas pela reportagem, que o ganho fiscal com a manobra será de aproximadamente R$ 2 bilhões ao ano.
“A incorporação de Furnas estava desenhada há algum tempo. As empresas estavam operando desde o ano passado no mesmo prédio no Rio de Janeiro. No fim, não fazia sentido em manter dois presidentes, dois diretores financeiros etc.”, diz uma dessas fontes que prefere não ser identificada. “Há uma racionalização administrativa na unificação de comando, especialmente porque as duas estão operando administrativamente no mesmo lugar.”
A unificação das operações regionais na holding da Eletrobras também pode ser vista como uma forma de se aumentar a integração entre as subsidiárias, evitando assim interesses políticos regionais e aumentando a possibilidade de competição com suas rivais. “Hoje, esse modelo de estrutura regionalizado acaba sendo redundante. Pode ter tido valor no momento da criação há décadas, mas não faz mais sentido por conta da qualidade de sistemas que a companhia tem atualmente. Você não vê a Engie, por exemplo, com uma Engie Sul e uma Engie Nordeste”, complementa essa fonte.
Pires vê na incorporação uma espécie de blindagem de Furnas, já que a operação era muito cobiçada por partidos políticos, sobretudo em Minas Gerais. “Com a privatização, essa coisa de usar a empresa para fins políticos vai acabar. As subsidiárias da Eletrobras, como a Chesf, a Eletronorte e Furnas, sempre foram alvo dos políticos, que queriam indicar diretores e presidentes, e dar emprego para uma ‘porrada’ de gente por critério político com intuito de ganhar votos”, aponta Pires.
Hoje, Furnas está presente em 15 estados e no Distrito Federal e opera um sistema robusto, que totaliza 13,7 mil megawatts (MW) de capacidade instalada de geração, respondendo por cerca de 31% da capacidade de geração da Eletrobras, empresa líder em transmissão de energia elétrica no país, com 38,49% do total das linhas de transmissão.
Juscelino Kubitschek analisa desenho da usina de Furnas, em novembro de 1957 (Acervo Memoria da Eletriciadade)
EMPRESA FOI CRIADA POR JK COM SEDE EM PASSOS
Furnas vale R$ 45 bilhões, segundo avaliação contábil feita pela Impacto Consultores Associados. A companhia está presente em 15 estados e no DF e tem mais de 2 mil empregados. O presidente Juscelino Kubitschek, pelo decreto 41.066 de 28 de fevereiro de 1957, criou a Central Elétrica de Furnas, com sede em Passos, para construir uma usina hidrelétrica no Rio Grande, em Minas Gerais. Em julho de 1958 começaram as obras da Usina Hidrelétrica de Furnas, instalada no trecho chamado de Corredeiras das Furnas, entre os municípios de São José da Barra e São João Batista do Glória
Veja a lista dos ativos de Furnas:
22 usinas hidrelétricas, com potência instalada de 17.794 MW
2 usinas termelétricas, com potência instalada de 375 MW
1 complexo eólico, composto de 5 parques, com potência instalada de 123 MW
18.292 MW de capacidade instalada de geração
75 subestações, com capacidade de transformação de 126.176 MVA
34.786,88 Km de linhas de transmissão