Dengue em Passos vira caso de polícia
Ao invés de apurar as causas da explosão, autoridades foram acionadas por aqueles que deveriam combater a proliferação do mosquito
Teve bastante repercussão nas redes sociais a informação de que o secretário municipal de Saúde de Passos pediu a ajuda da polícia para apurar as ‘ofensas’ que ele estaria recebendo por causa da atuação da pasta – ou a falta dela – na explosão da dengue na cidade. Para os observadores de plantão, no entanto, o que as autoridades deveriam investigar mesmo seria a responsabilidade de quem deixou a cidade chegar aos estratosféricos 6 mil casos de dengue e algumas mortes, o que colocou Passos na liderança do ranking estadual e nacional. Mas isso é claro que eles não vão fazer...
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E no debate acalorado da esgotosfera, sobrou até para o Conselho Municipal de Saúde. Que, de fato, deveria estar desempenhando um papel predominante neste caso, depois da estreia espetaculosa de seus novos membros com mais de 40 denúncias de todos os níveis.
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Uma das acusações que recaem sobre o tal Conselho nas postagens é a de que ele amarelou, digamos. Ou pior que isso: criou dificuldades para vender facilidades a preço de ouro ou nem tanto. Nos meios lobistas a essa prática convencionou-se chamar de ‘rent seeking’, e ela consiste basicamente em comprar de gestores públicos o direito de não ser tratado como todo o restante da população.
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Um dos denunciantes afirmou que o Conselho, além de conseguir um carro da frota municipal para suas “atividades”, ganhou até motorista do grupo de servidores que deveria combater o mosquito da dengue. Taí uma boa denúncia que a Comissão de Saúde da Câmara poderia apurar. Só em Passos mesmo: um conselho que deveria investigar, sendo investigado.
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Outra evidência de que “seus problemas acabaram” (como diria o pessoal do Casseta & Planeta) é tal crise da UPA – aquela que gerou polêmicas na Câmara, médicos trocando acusações, boletins de ocorrência na polícia e coisa e tal. De repente, não se fala mais nisso e parece que a unidade vive à mil maravilhas. O povo que o diga...
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Mas em outro canto dos problemas da saúde municipal, profissionais realmente preocupados com a situação – tipo aquela que o relatório da Heineken apresentou na reunião do Copam – apontam falta de investimento no setor. Segundo relatório divulgado pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, Passos foi o município que, proporcionalmente em relação ao orçamento municipal, menos investiu na saúde entre os 27 da macrorregional (veja abaixo).
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No relatório do Tribunal, entre os 27, Passos investiu apenas 21,83% do orçamento na saúde e só aplicou mais que os municípios de Bom Jesus da Penha (19,64%) e Vargem Bonita (21,74%). Os investimentos de Passos foram exatos R$ 49 milhões 614 mil. Ainda segundo o TCE, o município da região que mais investiu na saúde, como não poderia deixar de ser, foi São Sebastião do Paraíso: 36,53% do orçamento, com um total de R$ 61 milhões e 831 mil. Quase o dobro per capita que Passos oferece a cada um de seus cidadãos. Logo depois de Paraíso, estão no ranking São Tomás de Aquino (35,85%), Monte Santo de Minas (35,44%), Delfinópolis (35,05%) e Alpinópolis (34,19%). Veja o relatório: