‘Besouro Azul’ exibe coração latino embaixo de armadura gelada

Besouro Azul é um filme com um público-alvo muito claro: latinos e latinas nos Estados Unidos, e América Latina, e, sendo o Brasil o maior mercado, uma atriz brasileira, Bruna Marquezine, foi escolhida para o interpretar o interesse amoroso do protagonista. As referências à cultura latino-americana são muitas, e várias podem passar despercebidas para outro público – como as novelas Maria do Bairro e Maria Mercedes, além do Chapolin Colorado, que rendem alguns dos melhores momentos do filme.

Dirigido por Angel Manuel Soto, o longa em cartaz no Cine Roxy, em Passos, caminha por uma linha fina entre a homenagem e o racismo no retrato exagerado da família mexicana na cidade ficcional de Palmera City, onde os imigrantes vivem num bairro afastado e periférico, enquanto a elite, dominada por Victoria Kord (Susan Sarandon), uma empresária rica e maquiavélica, que desenvolve um equipamento de segurança que transforma cada pessoa num “exército de um homem só”.

Jaime Reyes (Xolo Maridueña) acaba de voltar para casa depois de terminar a faculdade, e sem emprego acaba indo trabalhar na casa de Victoria com sua irmã Milagro (Belissa Escobedo), onde conhece a sobrinha da vilã, Jennifer (Marquezine), de quem acaba se aproximando. E é por meio dela que acaba chegando ao tal do Besouro Azul, que lhe dá poderes especiais.

Nesse filme, possivelmente o primeiro de uma franquia, não há muitas explicações sobre o que é o Besouro Azul nem de onde veio – comenta-se que é de outro planeta e que escolhe a quem quer transformar em herói. A criatura foi encontrada pelo pai de Jennifer, que sonhava em adquirir os poderes, mas isso nunca aconteceu. Ao contrário de sua irmã, Victoria, ele não queria transformar as empresas Kord em uma produtora de armamentos, pelo contrário. Mas ele morreu em circunstâncias misteriosas.

Misteriosa é também Jennifer. Ela comenta que é brasileira – até uma frase em português Marquezine diz – mas não se explica muito bem suas origens. O elenco de personagens coadjuvantes incluía família mexicana de Jaime, composta também pela mãe (Elpidia Carrillo), o pai (Damián Alcázar), um tio (George Lopez) inventor e paranoico que vê conspiração em tudo, e a avó (Adriana Barraza), uma ex-guerrilheira. O amor caloroso da família latina é mostrada de forma exagerada para efeito cômico, e, às vezes, funciona, mas depois fica um tanto grotesco de tanto que o filme insiste nisso.

Quando Jaime se transforma em Besouro Azul, há algo de Homem-Aranha nele, na descoberta de poderes, e também na incapacidade de controla-los. A carapaça que se forma em torno dele é ultramoderna com uma espécie de computador de bordo, que conversa com o rapaz e até lhe da sugestões de como agir. Assim, eles, aos poucos, se fundem numa mesma criatura, à medida em que a criatura vai chegando ao cérebro de seu hospedeiro. Victoria, por sua vez, conta com o fortão Conrad Carapax (Raoul Max Trujillo), um homem no qual ela testa seus equipamentos simbiontes que se acoplam ao corpo dele – tal qual o Besouro Azul – e o transformam numa criatura poderosa, e o maior inimigo do herói.

Besouro Azul é uma aposta da DC para um público bem específico, e há potencial, e o filme poderia até ser abraçado por latinos e latinas, como Barbie foi pelas mulheres, ou como Pantera Negra pelos negros e negras – não faria uma bilheteria tão gigantesca, mas poderia haver uma identificação que ajudaria a manter a franquia. Pontas soltas para uma continuação existem aos montes aqui (inclusive numa cena no meio dos créditos finais) agora, no entanto, tudo depende do sucesso financeiro ou não do longa, e de como ou se o personagem será inserido na nova reformulação do universo DC prometida para 2025. (Alysson Oliveira / CineWeb)

BESOURO AZUL (Blue Beetle). EUA, 2023. Gênero: Ação. Classificação: 14 anos. Direção: Angel Manuel Soto. Elenco: Xolo Maridueña, Bruna Marquezine, Susan Sarandon, Adriana Barraza, Damian Alcazar. Cine Roxy, em Passos, 18h00. Cine A, São Sebastião do Paraíso, 19h00.

Veja o trailer de “Besouro Azul”