A vida pede coragem
Cronicando

A vida nunca foi feita para amadores. Desde os primórdios, sobrevive quem tem força para resistir, inteligência para se adaptar e coragem para seguir em frente. Mas, ainda assim, não é uma travessia fácil. Os ventos das dificuldades sopram contra todos, sem distinção. Alguns enfrentam provações severas, outros carregam fardos mais leves, mas ninguém caminha sem tropeços.
Há quem pense que o sofrimento se mede em dinheiro. O mundo está cheio de exemplos que provam o contrário. Veja Santos Dumont, o pai da aviação. Viveu para ver sua maior invenção, o avião, ser usada como arma de guerra — algo que o destruiu por dentro. Mesmo em meio ao sofrimento, manteve sua dignidade, e sua contribuição para a humanidade jamais será esquecida.
Pense em Abraham Lincoln, que nasceu em uma cabana de madeira e perdeu oito eleições antes de se tornar presidente dos Estados Unidos. Enfrentou falências, crises pessoais e até depressão severa. Mas persistiu, resistiu e mudou a história do mundo.
E o que dizer de Ludwig van Beethoven? Um gênio da música que, ironicamente, perdeu a audição no auge da carreira. Imagine o desespero de um compositor que já não podia ouvir suas próprias sinfonias! Ainda assim, Beethoven desafiou o impossível e compôs algumas das maiores obras-primas da música clássica, como a grandiosa Nona Sinfonia, quando já estava completamente surdo.
Todos passam por dificuldades. Uns enfrentam miséria, outros doenças; alguns experimentam a dor da traição, da ingratidão, da solidão. Mas a vida não se compadece dos que desistem. Ela exige resiliência. O sofrimento pode vir de todas as formas, mas há algo maior do que qualquer tormenta: a honra, a dignidade, o nome que carregamos e deixamos para o mundo.
Aprendi que devemos nos ajudar mutuamente. Sim, o mundo pode ser cruel, mas também pode ser generoso para aqueles que não desistem. Como ouvi certa vez de um velho sábio: “Ajude sempre que puder. Mas, acima de tudo, honre o seu nome.” Há ensinamentos que valem mais do que ouro, e esse é um deles. Não basta sobreviver; é preciso viver de modo a inspirar respeito, a ser exemplo para os que vêm depois.
A vida segue, indiferente às nossas dores. Cabe a nós decidir se seremos protagonistas da nossa história ou apenas espectadores do tempo que passa. O caminho é árduo, mas cada obstáculo superado nos fortalece.
E quando olhamos para a história, encontramos figuras como Rosa Parks, que, ao se recusar a ceder seu assento no ônibus segregado, tornou-se um símbolo de resistência contra a opressão. Sua coragem não apenas desafiou as normas de sua época, mas acendeu uma chama de mudança que ainda arde nos corações daqueles que lutam por justiça. Assim como ela, somos chamados a nos erguer em momentos de adversidade, a nos manter firmes em nossas convicções e a lutar pelo que é certo.
A vida pede coragem — daquelas que não cabem nos discursos, mas transbordam nos gestos. E é essa coragem que atravessa os tempos e constrói os legados.
Eu posso, você pode, nós podemos. Porque viver é para os valentes.
E, afinal, por que não?
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado e cronista. (luizgfnegrinho@gmail.com)